13-08-2010-Salta 3 Dia “D” Decisão

Todos nós viajantes e aventureiros temos que ter sempre um Plano B. Hoje tomamos uma decisão que estávamos adiando a dias.

De posse de varias informações de viajantes que foram para o San Pedro do Atacama, Guias de Viagens e relatos de amigos (veja abaixo alguns deles) decidimos não ir de Motor Home para San Pedro do Atacama.

Não desistimos nunca dos nossos objetivos, quando isto acontece é por um motivo muito forte e que nos coloque em risco ou impossível de se cumprir.

Neste caso o risco é a Subida e Descida da Cordilheira (Cuesta de Lipan) , o frio que deveríamos enfrentar no deslocamento e na estada nesta cidade, uma vez que recebemos a informação que uma nova Onda Polar está para chegar na Argentina.

Desta forma não vamos desistir de ir a San Pedro do Atacama, vamos somente mudar a forma de irmos.

Estamos alugando um carro e em companhia do nosso filho Leandro e do amigo da família, Diego vamos conhecer a cidade e fazer os passeios indicados.

Vamos aproveitar para refazer parte do circuito que fizemos com o casal Juan e Mônica para levar o Leandro e Diego para conhecerem

Depoimento de Antonio Olinto

Como sabe, eu fiz todos os passos existentes entre Chile e Argentina, tudo em bicicleta. O passo de Jama é um dos mais bonitos. Acho que agora deve estar tudo asfaltado. A primeira subida de Lipan logo após Purmamarca é a parte mais difícil, mas depois ele não perde altitude e se não for acostumado com altitude pode ter um pouco de dor de cabeça e naturalmente ficará muito cansado. Seu carro também.

Susques não tem muita coisa, não conte com muita assistência por lá.

Na descida terá 50 km de pura descida quase reta sem curvas ou caracoles. No alto é o mais bonito espero que tenha água no carro e possa ficar mais tempo lá por cima e curtir tudo aquilo.

Depoimento de Miriam Faleiros

Quando fomos de Pumamarca até San Pedro do Atacama a estrada é boa, porém deserta, o único ponto de parada é Susques (pequeno povoado). Até Susques a subida de 1400m é pela Cuesta de Lipan com muitas curvas fechadas, requer muita atenção e cuidado. Ali  tem um posto de serviço 24 horas com combustível, restaurante e pousada. É um ponto para pernoite se necessário. De Susques para Passo de Jama não há mais nenhum ponto de apoio. Só saia de lá se puder chegar a San Pedro ainda de dia. Passo de Jama só tem a aduana Argentina e está e está a 4.710 metros de altitude, não é lugar é ideal para pernoite, o ar é muito rarefeito e noite e a noite é muito fria. Logo após Paso de Jama já é território chileno, mas a aduana fica em San Pedro a 163 km da divisa com a Argentina. Como o asfalto é novo a aduana chilena e os carabineiros são extremamente exigentes, irredutíveis, prepotentes e intolerantes com os turistas. Antes de chegar a San Pedro de Atacama a estrada é reta e a descida de 2.000metros é feita em apenas 40 km. Este é o trecho que requer mais cuidado. Veículo grande é indispensável descer em marcha reduzida e freio motor, caso contrário o veículo não pára mais. A subida é mais difícil, os motores esquentam muito decorrente da inclinação da estrada e pelo ar rarefeito.

Depoimento de Renato e Graça

Costeando o Lipán, quando a gente começa a desconfiar que não há mais o que subir, em Potrerillo, chega-se ao ponto mais alto: 4.170 m. do nível do mar (no GPS marcava 4.196).  Depois descemos um pouco até as Salinas Grandes, também esplendorosa nos seus mais de 12.000 h de cachi (sal em quéchua). 

Continuamos até Susques onde pernoitaremos já que em Paso de Jama não é recomendável pela altitude e ar rarefeito.

Susques se intitula o Pórtico dos Andes e já pertenceu a Bolívia e ao Chile. Às 15 horas passamos por dentro do pueblo e não nos agradamos, entre outras coisas pela quantidade de caminhões aguardando atendimento na aduana. Seguimos mais 1,5 km e estacionamos junto ao hotel El Unquillar, quando um vento com rajadas fortíssimas nos assolou. (Renato resolveu prender as clarabóias e a antena da Sky por medida de segurança). Depois de uma boa cochilada tomamos um té de coca e banho com água morna porque o ar rarefeito, além do motor do carro, também atinge o desempenho do gás, pois segundo nosso Garmin estamos a 3.626 do nível do mar.

Dia 28 de agosto. Levantamos as 06h30min e ainda era noite. Talvez este seja o maior frio que pegaremos: dentro do MH, de 1° a 5 ° (dependendo do local e com o aquecedor ligado) e fora, -12°!

Saímos as 07h30min e até a aduana de Paso de Jama (AR) só encontramos um carro. A explicação dos guardas: pra quem vem do Chile ainda é muito cedo e os da Argentina estão retidos antes de Susques por um dia para explosão de rochas (desta, escapamos).

A passagem na aduana Argentina foi tranqüila enquanto a temperatura só baixava. Ali encontramos um fiscal que já veraneou em Floripa e em Itapema! Segundo o GPS, ali, a altitude é de 4.164 e no Km 94 da carreteira CH26, com muito vento, é de 4.837 (a mais alta que já pegamos). Pouco tempo depois, ao pretender usar a água no MH, percebemos que as bombinhas não ligavam: a água nos dutos estava congelada.

Desde Paso de Jama, Renato se preocupou com a luz vermelha acesa (no painel) da bateria. Com medo de que ficássemos sem bateria, até Calama ele não desligou mais o carro. Ao mesmo tempo, os instrumentos de combustível, temperatura e outros acusavam números menores do que o real. O freio motor também não funcionava mais. Com isso, descemos o pior trecho (até São Pedro de Atacama) só nas marchas e sem o freio motor (ele só me contou na aduana embora eu tenha perguntado se havia alguma coisa estranha com o motor). Praticamente descemos aqueles famosos 42 quilômetros onde a altitude baixa uns dois mil metros na 3ª e 2ª marchas, um horror, mas em segurança. É impressionante o nº de cruz à beira da estrada (fotografei o local citado por João Leopold). Tem mais de 15 saídas de emergências nestes poucos quilômetros.

Estas saídas são de brita para que os caminhões que fiquem sem freio possam ser parados.

Depoimento de João Leopold

Quando recebi a informação do Dr. Carlos (O desembargador que vive no motor-home) que este Paso estava asfaltado ele também mencionou que na descida tinha ficado sem freio e eu o subestimei pensando em uma má manutenção. Pois quando estávamos já a quatro mil e seiscentos metros de altura (A fronteira com a Bolívia fica a quatro quilômetros) não percebemos que a descida iria logo começar, de repente não precisava mais da primeira e nem da segunda-marcha e pus a terceira enquanto se descortinava a imagem grandiosa do deserto de Atacama a mais de 2 600 metros abaixo, bastou apenas um toque nos freios para descobrir que eles perderam a função enquanto um cheiro de queimado intenso invadiu a cabine. Até hoje fico na dúvida se o ar rarefeito me deixou burro ou se a falta deste ar aliado a enorme inclinação (4 600 metros a aproximadamente 2000 metros em 42 quilômetros) somada ao peso do veiculo que estava no seu limite foi o responsável por esta perda tão rápida do funcionamento dos freios. O fato é que consegui reduzir para a primeira marcha, afinal uma estrela me guia no capô e bombeando o freio conseguimos parar exatamente em uma leve curva que tem um cemitério a sua direita. Pois é, o cemitério é dos motoristas com menos sorte e a decoração são feitas com os pedaços de caminhão que eles dirigiam.

A revista pode ser bastante rigorosa. Procuramos um camping na cidade que foi fácil de encontrar e aproveitamos o resto do dia para fazer o câmbio e procurar o endereço de uma cidade que tivesse uma concessionária Mercedes para checar os freios, agendamos por telefone e fomos passear.

San Pedro de Atacama está localizada a uma altitude bem mais baixa do que as cordilheiras que a rodeiam. Prova disto é que ao sairmos do Atacama subimos mais de 2.000 metros de altitude em questão de 30 minutos. Saímos de 2.540mts às 09:05h para chegar a 4.665mts  às 09:40h.